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Universidade Federal do Ceará
Faculdade de Economia, Administração, Atuária e Contabilidade

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Plano de retomada para a economia cearense e a esperança no comportamento

Publicado em: 01/06/2020

Autores: Francisco Gildemir Ferreira da Silva – Professor do curso de Finanças da UFC/Coordenador do Observatório de Finanças; Julie Lima Ferreira – Aluna do curso de Finanças da UFC/Bolsista PIBIC-Funcap e Pablo Anthony Costa Castro – Aluno do curso de Finanças da UFC/Bolsista PIBIC-UFC

Os autores são membros do Observatório de Finanças do Curso de Finanças da UFC e participam do projeto de Extensão Prospectos

Os indicadores da COVID no Ceará apresentaram reversão da transmissão em decorrência de ações coordenadas, duras e longas[1]: “Uma pesquisa do grupo Covid-19 Analytics, que reúne engenheiros, economistas e cientistas de dados, aponta que o Estado é o único de todo o País com taxa de contágio abaixo de 1 (0,92)”. Há espaço para discussões, mas foi um esforço hercúleo com repercussões sociais e econômicas. Perdeu-se no Brasil[2]: interações sociais, renda e riqueza tanto para o público quanto para o privado, o observatório da FIEC é um ótimo local para verificar os números para o caso cearense[3].

Ontem, 28 de maio de 2020, o governo estadual do Ceará anunciou um plano intitulado: “Retomada Responsável das Atividades Econômicas e Comportamentais”, com progressão de liberação de atividades econômicas em quatro fases a iniciar em primeiro de junho, baseando-se nos aspectos de impacto econômico e transitividade da atividade e observando a disponibilidade de leitos, os números de internações e óbitos e as características territoriais. É uma aposta nos cidadãos e o início de um pacto social intermediário para um novo normal que dependerá muito mais do comportamento do que dos resultados econômicos. Muitos correrão para recuperar seis meses de baixo faturamento, outros correrão para as relações humanas, entretanto, lembrem-se: cada um será culpado da passagem da próxima fase. É um acordo do tipo: se tudo ocorrer como solicitado, então podemos avançar.

O governo está pautado em aspectos científicos em particular a taxa de contágio abaixo de 1 para estarmos seguro. Mas afinal o que devemos fazer, segundo a ciência, para garantir esta manutenção?

A ciência da psicologia comportamental, economia e redes.

Alguns aspectos psicológicos influem na decisão econômica. Este ponto é tradicional em economia, mas tendo sido colocado de lado por anos, teve ascensão recente com os prêmios Nobel: Kahneman, Thaler e mais no passado por Schiller[4]. Os estudos apontam fenômenos que explicam parte do comportamento durante a pandemia: Over confidence, Ancoragem, Viés da confirmação e “Efeito Manada”. No geral, tais efeitos são observados quando somos influenciados para a tomada de decisão e utilizamos de nossa intuição, sem ponderar ou pensar, ou seja, vamos para o automático.

No trabalho empírico realizado por Danilo Lopes Ferreira Lima e outros intitulado: “COVID-19 no estado do Ceará, Brasil: comportamentos e crenças na chegada da pandemia” foi avaliado os aspectos comportamentais e as crenças da população cearense frente à pandemia de COVID-19 e se concluiu que a abordagem frente à pandemia de COVID-19 varia de acordo com aspectos sociais, como gênero, idade, escolaridade e local de residência, assim como o sistema de crenças da população do estado do Ceará. Desta feita, temos uma lição: o comportamento deve ser considerado na abertura. O comportamento no isolamento também tem outros aspectos psicológicos que podem explicar listados na matéria: “Psiquiatra explica por que algumas pessoas cumprem isolamento e outras não. Pesquisa de doutoranda da UnB também ajuda a entender perfil de quem fura a quarentena” [5]

Em trabalhos internacionais, de Read e outros (2008)[6] e Meyers e outros (2005)[7], conclui-se que em pandemias, observado o ocorrido no SARs, se for de abrir, melhor abrir locais onde poucas as interações sociais, ou seja, onde quem vai é comum ao local, pois locais de muita interação: praças, shoppings, etc., potencializam a transmissão. Desta feita, a taxa de contágio pode passar de 1 com abertura imediata de tais locais e retornaríamos ao início, com possibilidade de novo lock-down, o que se observou em vários países. O aprendizado do ocorrido em aberturas foi resumido por Thomas Conti[8] e que em resumo é: devemos mudar de hábitos para reabrir, mas mesmo assim, não é garantido o sucesso.

O que os números dizem sobre o comportamento e a disseminação de vírus no Ceará?

               O GBD compare[9] é um banco de dados para análise dos níveis e tendências de saúde do mundo de 1990 a 2017 usando estimativas do estudo Global Burden of Disease (GBD). Compare causas e riscos em um país (agora no nível estadual dos EUA), compare países com regiões ou o mundo e explore padrões e tendências por país, idade e gênero. Utilizando suas comparações encontram-se os seguintes gráficos quando comparamos Ceará com diferentes países no que tange a doenças respiratórias.

O Ceará possui taxa de morte por doença respiratória na faixa de 12/100.000 habitantes quando avaliado o fator comportamento (caso de cima nos gráficos) e perdemos para Alemanha (8/100.000), Itália (5/100.000), Chile (6/100.000) e França (8/100.000) entre outros países, o segundo fator é o ambiente que no caso da reabertura, estará sendo controlado pelo Estado e que tem taxa 50% menor do que a comportamento para o Ceará.

 

Conclusão

No plano supramencionado, o ambiente está sendo controlado pelo estado Cearense, cabe a população comportar-se adequadamente para a manutenção da taxa de contágio. Estratégias sugeridas pelo laboratório de inovações de dados do governo do Estado[10] e por “A NudgeRio”[11] com base na arquitetura da escolha de Thaler[12], são empurrões que podem auxiliar a melhoraria do comportamento, mas não dirimindo a responsabilidade cidadã. Estamos em um pacto mais rígido que tem resultados condicionados a mudança para um novo normal. Esperamos que todos se habilitem.

 

 

[1] https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/editorias/metro/ce-tem-menor-taxa-de-contagio-do-pais-e-estabiliza-curva-de-covid-19-1.2250545?utm_source=whatsapp&utm_medium=button-share

[2] https://rgellery.blogspot.com/2020/05/efeitos-da-pandemia-na-arrecadacao-dos.html

[3]https://www1.sfiec.org.br/observatorio-da-industria/informacoes-estrategicas/dashboard/1024/panorama-industrial

[4] https://pt.wikipedia.org/wiki/Economia_comportamental

[5] https://www.metropoles.com/vida-e-estilo/comportamento/psiquiatra-explica-por-que-algumas-pessoas-cumprem-isolamento-e-outras-nao?amp

[6]  Read JM, Eames KT, Edmunds WJ. Dynamic social networks and the implications for the spread of infectious disease. J R Soc Interface. 2008;5(26):1001‐1007. doi:10.1098/rsif.2008.0013 < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2607433/pdf/rsif20080013.pdf.>

[7] Lauren Ancel Meyers, Babak Pourbohloul, M.E.J. Newman, Danuta M. Skowronski, Robert C. Brunham, Network theory and SARS: predicting outbreak diversity, Journal of Theoretical Biology,

Volume 232, Issue 1, 2005, Pages 71-81, ISSN 0022-5193, https://doi.org/10.1016/j.jtbi.2004.07.026. <(http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0022519304003510>

[8] http://thomasvconti.com.br/2020/consideracoes-sobre-a-reabertura-de-sao-paulo

[9] http://www.healthdata.org/data-visualization/gbd-compare

[10] https://www.instagram.com/p/CAGESYaF-I1/?igshid=xzcd6bm4glh2

[11] http://www.rio.rj.gov.br/web/fjg/exibeconteudo?id=8060290

[12] http://nudges.org/tag/richard-thaler/

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